Ksar Sghir [Alcácer Ceguer, Ksar Masmuda, Ksar al-Madjaz]

Lat: 35.843236111111000, Long: -5.559125000000000

Ksar Sghir [Alcácer Ceguer, Ksar Masmuda, Ksar al-Madjaz]

Norte de África, Marrocos

Enquadramento Histórico e Urbanismo

De recuada fundação histórica, Ksar Sghir adquiriu importância pela posição estratégica que ocupava na passagem do Estreito de Gibraltar e nas favoráveis condições portuárias que oferecia. A raiz toponímica, o prefixo Ksar - castelo - não deixa dúvidas quanto à sua natureza. Foi Ksar Masmuda, no século VIII, por referência ao território da tribo que o dominava; Ksar Awwal, como lhe chamou, no século XI, Al Bekri, que assinala a excelência do seu porto fluvial e a intensa atividade dos seus estaleiros; Ksar al‐Madjaz - castelo de passagem - designação que derivou do papel fundamental que teve, nos séculos XI e XII, no embarque de tropas almorávidas e almóadas em direção à Península Ibérica e, finalmente, Ksar Sghir - castelo pequeno - (Alcácer Ceguer), a partir do século XIV, sob a dinastia merinída, topónimo que chegou aos nossos dias e que reflete o estatuto menor, militar e urbano, que entretanto adquiriu no amplo complexo das urbes fortificadas da zona do Estreito.
É um lugar portuário e uma fortificação decadentes que os portugueses conquistam em 23 de outubro de 1548. O progressivo enfraquecimento da presença árabe no al‐Andalus e a conquista cristã da vizinha Ceuta, em 1415, tinham‐lhe diminuído a importância militar e económica. Ksar Sghir, naquela época, estava longe da prosperidade de tempos idos, que ficara expressa no engrandecimento da urbe e da atividade portuária, por impulso de Yacub al Mansour, em meados do século XII, e nas imponentes muralhas mandadas construir por Abu Yacub Ysuf, em finais do século XIII (1287), que tinham nas portas de Mar (Bab al‐Bahar) e de Ceuta (Bab es‐Sebta) as marcas mais significativas da sua monumentalidade.
Em julho de 1550, após a tentativa frustrada de salvar a praça com a construção de uma nova fortificação no monte próximo do Seinal, Alcácer Ceguer é abandonada, altura em que os seus muros foram destruídos com cargas explosivas. Não tendo voltado, a partir de então, a ser ocupada e povoada, depressa se arruinou. Foi resgatada do esquecimento pela arqueologia, há algumas décadas atrás, que permitiu o reencontro com a sua história. Presentemente, o seu espaço encontra‐se vedado e ocupado por forças militares, servindo de ponto de controlo no combate à emigração clandestina e ao narcotráfico.
Continuidade e rutura, à semelhança dos demais lugares conquistados na costa marroquina, pautaram a presença portuguesa em Ksar Sghir. Reaproveitou‐se muito do que existia dos dispositivos fortificados e do complexo urbano e foi significativo, igualmente, o que se construiu e acrescentou. Duas circunstâncias, contudo, fazem de Alcácer Ceguer um caso de exceção: foi a única praça portuguesa norte‐africana em que não se verificou o processo de redução do perímetro urbano original, o chamado "atalho", e a única que ficou abandonada e despovoada após a retirada dos portugueses.
A análise arqueológica das estruturas fortificadas da antiga vila portuguesa de Alcácer Ceguer e a documentação histórica permitem afirmar que existiram, sobretudo, duas grandes fases construtivas: as campanhas afonsinas, empreendidas nos anos sequentes à conquista, e as manuelinas, lançadas em inícios do século XVI e que se prolongaram por mais de uma década.
A vila portuguesa de Alcácer Ceguer reaproveitou a organização do espaço e o conjunto edificado de época islâmica, adaptando‐o a novos usos. A artéria principal da urbe, que estabelecia a comunicação entre as frentes marítima (Porta de Mar) e terrestre (Porta de Ceuta), manteve o seu traçado geral, bem como os eixos viários que com ela se articulavam, embora tenha existido a preocupação, que a arqueologia comprova, de regularizar a malha urbana e promover uma ocupação mais equilibrada do espaço intramuros. Deu‐se continuidade, por outro lado, à solução de concentrar os principais edifícios públicos junto à Porta de Mar, a mais monumental e resguardada da vila, e os privados e oficinais na proximidade das duas outras portas. Verificaram‐se, naturalmente, por necessidades diversas, particulamente de ordem militar, intervenções mais ou menos profundas no tecido urbano. A mais significativa ocorreu em época manuelina, com a construção do castelo e da couraça marítima, que implicou a demolição de edifícios, a destruição de hortas e a reconfiguracão da praça principal da vila. O casario, por seu turno, foi sendo objeto de obras de diferente tipo, da remodelação do espaço à reconstrução absoluta, privilegiando‐se a abertura e a aproximação à rua (foram escavadas e identificadas mais de meia centena de estruturas residenciais, que apresentam, na maioria dos casos, uma área aproximada de sessenta metros quadrados). A construção de raiz de habitações e de equipamentos coletivos (moinhos, fornos, forjas, etc.), que terá ocorrido desde a época afonsina, conheceu certamente um forte impulso no contexto das campanhas de obras manuelinas, que exigiram a presença de um contingente alargado de homens enviado do reino. Refira‐se, a propósito, que não existem indicadores seguros sobre a população portuguesa de Alcácer Ceguer. A partir do testemunho de Valentim Fernandes, datável de 1505‐1507, e da análise das estruturas remanescentes da vila, tem sido estimada em oitocentos vizinhos, número que terá conhecido, naturalmente, oscilações significativas ao longo dos quase cem anos de presença portuguesa.

Arquitetura militar

Arquitetura religiosa

Equipamentos e infraestruturas

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