Kilwa Kisiwani [Quíloa]

Lat: -8.957818994633600, Long: 39.499435988828000

Kilwa Kisiwani [Quíloa]

África Oriental com a Etiópia, Tanzânia

Enquadramento Histórico e Urbanismo

Quíloa, com a sua fortaleza, representa possivelmente a primeira arquitetura militar europeia implantada de raiz no Oriente Índico. A sua construção resulta da necessidade estratégica de domínio do Oceano Índico para assegurar a segurança e abastecimento das rotas das grandes carreiras marítimas. Com efeito, a costa africana oriental e suas ilhas costeiras ficaram para sempre marcadas pela presença portuguesa dos séculos XVI e XVII, desde Madagáscar ao Golfo Pérsico, passando pelas costas de Sofala ou por Zanzibar, num contexto geográfico amplo, de que Quíloa fez parte. No decurso da sua viagem para a Índia, com o Brasil de permeio, Pedro Álvares Cabral parou em Quíloa, em 28 de julho de 1500. Em 1502, no regresso da sua segunda estada no Oriente, Vasco da Gama recebeu o primeiro tributo prestado por um senhor local ao rei D. Manuel (tendo o ouro servido para produzir a célebre custódia de Belém). Os primeiros anos do século XVI assistiram a uma acelerada instalação da logística de que dependeu o funcionamento do Estado da Índia. Este assentou a sua primeira capital na Ilha de Moçambique, mas foi em Quíloa (Tanzânia) que se fez a primeira edificação militar de raiz levada a cabo por europeus no lado oriental do mundo, durante a viagem da ida do primeiro vice-rei da Índia, D. Francisco de Almeida. O que os portugueses então encontraram na área, segundo Charles Boxer, foram cidades em geral "descritas como bem construídas, com casas de mais de um piso, mas de ruas estreitas e vielas à maneira árabe. Quíloa estava já bastante decadente, mas a sua enorme e quase arruinada mesquita ainda constituía impressionante testemunho da sua anterior grandeza" (Boxer, 1960, p. 29). Com o acordo do senhor suaíli de Kilwa, junto ao seu sumptuoso palácio, numa ilha costeira a meia distância entre a atual Dar-es-Salam e a fronteira moçambicana a sul, o recém-nomeado vice-rei da Índia, D. Francisco de Almeida, mandou construir o forte que deveria assegurar bases para as armadas portuguesas, mas não o senhorio das terras, conforme o rei D. Manuel recomendou por carta de poder de 7 de fevereiro de 1501 e no regimento datado de 5 de março de 1505. D. Manuel ordenou-lhe também que "erguesse algumas fortalezas, e que aproveitasse a ilha de Angediva para porto de abrigo das nossas frotas, e apoio às outras bases terrestres da Costa do Malabar. A missão incluía também o fortalecimento dos laços e alianças com os rajás de Melinde e de Cochim, e impunha que, ao lado da fortaleza que deveria construir em Coulão, fizesse uma igreja e uma casa de recolhimento para frades. D. Francisco de Almeida deveria também erguer a fortaleza de Cananor, concluir a de Cochim, já começada, na costa africana deixar erguidas as de Quíloa e Sofala, esta a cargo de Pedro de Anaia, fazendo ainda uma outra na boca do Mar Roxo, para o que foi escolhida a ilha de Socotorá" (Farinha, 1991). Todavia, a fortaleza foi abandonada em 1512; preferiu-se concentrar o domínio militar e comercial em Sofala e Moçambique do que dispersá-lo por uma área tão vasta. Os omanitas, rivalizando duramente com os portugueses, apoderaram-se de Quíloa pelo menos desde 1700, depois de terem conquistado Mombaça. Por volta de 1770, os senhores locais recuperaram o controlo da cidade, havendo notícia de relações com interesses franceses, tendo o rei oferecido o forte português, como residência, a um mercador de nome M. Maurice, com quem negociou um tratado de amizade que incluía o fornecimento anual de mil escravos para as possessões francesas no Índico. Cedo, porém, a partir de 1784, juntamente com Zanzibar, Pemba e Mafia, Quíloa voltou a prestar tributo a Mascate. Um governador e uma guarnição foram instalados no forte até 1843, data em que foi extinto o sultanato de Zanzibar e Pemba, e em que o último sultão foi deportado. A partir de meados do século XIX a cidade entra em colapso e, rapidamente, morre.

Arquitetura militar

Loading…