Limpopo com Chokwé [Trigo de Morais]

Lat: -24.528387999430000, Long: 33.001221999715000

Limpopo com Chokwé [Trigo de Morais]

Gaza, Moçambique

Enquadramento Histórico e Urbanismo

Tal como no Cunene em Angola, o sistema de "colonatos" agrícolas foi também experimentado em Moçam‐ bique, no Médio Limpopo, área de forte potencialidade irrigatória, onde se fixou uma colónia agrícola mista, enquanto em Inhamissa se instituía um colonato agrícola para indígenas. A ideia e projeto de irrigação do Vale do Limpopo desenvolveu‐se em 1924‐1925, quando uma brigada em que participava o engenheiro Trigo de Morais (1895‐1966) aí levou a cabo uma missão de estudos, por encargo do então governador‐geral de Moçambique, Manuel Moreira da Fonseca. Trigo de Morais, Diretor da Junta Autónoma de Obras de Hidráulica Agrícola/JAOHA, elaborou, com o engenheiro agrónomo Ruy Mayer, um projeto de irrigação para a Companhia do Buzi, a quem o Estado português tinha concessionado parte do território em 1933. O projeto foi aprovado em 1938. Décadas depois, em 1951, o Primeiro Plano de Fomento para o Ultramar, preparado por aquele técnico dos Serviços Hidráulicos, previa as obras do Cunene, do aproveitamento hidroelétrico do Biópio (centro‐sul de Angola), e a obra de irrigação do Vale do Limpopo em Moçambique - esta baseada no projeto revisto dos anos 1920, para servir cerca de 31.000 hectares de terra de aluvião. Nesse ano decidiu‐se a obra da barragem e do caminho‐de‐ferro do Limpopo, para ligação com a Rodésia do Sul (atual Zimbawe). Trabalhando no terreno desde 1953, Trigo de Morais acompanhou a ereção da primeira aldeia do colonato, nesse ano, e a construção, em 1954, e inauguração, em 1956, da barragem com uma ponte‐açude, estrada e caminho‐de‐ferro que regularizou o curso do rio. A barragem ficou desde 18 de fevereiro de 1961 com o nome oficial de "Engenheiro Trigo de Morais". A partir dela desenvolveram‐se os canais e a rede geral de irrigação da área prevista, e depois, cerca de 1966, articulada com a Central de Lionde, no Vale do Limpopo.
Nos dez anos seguintes, a região assistiu à fixação de missionários, como foi o caso do Convento das Carmelitas, edificado em Vila Trigo de Morais; à chegada de milhares de colonos agrícolas, provindos das regiões mais rurais do Portugal ibérico (até 1966); à fundação da Escola Agrícola do Limpopo e à criação de muitos equipamentos complementares (igrejas, escolas primárias, etc.). A produção crescente levou à instalação de um conjunto fabril encadeado, com uma fábrica de laticínios, de cuidada arquitetura, e outras de luzerna, de concentrado de tomate, de descasque de arroz, de salsicharia e de moagem.
A nova população rural, que correspondia à ideia de Trigo de Morais ("a solução mais eficaz tanto na Metrópole como no Império Colonial para a colocação do excedente demográfico reside [...] nos múltiplos usos da água") para uma colonização sustentada e mista, distribui‐se entre 1953 e 1964 por treze aldeias, como o próprio referia a Américo Thomaz, aquando da sua visita como presidente da república, em 27 de julho de 1964. As aldeias receberam na sua maioria, como era uso também em Angola, designações evocativas do Portugal ibérico: de poente para nascente, e orientadas seguindo a malha agrícola de sentido nordeste‐sudeste (a lembrar a malha territorial resultante da romanização do Rio Pó, em Itália), ao longo do imenso plaino, identificam‐se as aldeias de Barragem, Leonde, Freixiel, Folgares, Sagres, Ribamar, Senhora da Graça, Ourique, Madragoa, Santana, Pegões, e, claro, Santa Comba (esta designada como a sua homóloga no planalto de Cela, em Angola). Assim, uma barragem de considerável envergadura e um sistema de rega para aproveitamento agrícola permitiram a urbanização e organização territorial da área do colonato, e a fixação de povoações europeias rurais em aldeamentos programados. Na sua resultante patrimonial, são relevantes no Limpopo as construções e infra‐estruturas decorrentes da rede de rega (barragem e estruturas complementares, canais e pontes, rodovias), os equipamentos que a dinâmica populacional e económica gerou (escolas, edifícios religiosos, fábricas, etc.) e as edificações de cunho "regionalista" dos núcleos habitacionais - objeto de concursos de arquitetura, abertos pelo Conselho Superior do Fomento Ultramarino para as "casas de colonos", em 1957, como refere Paulo Cunha.
A povoação mais importante do Vale do Limpopo chamava‐se, antes da implantação do colonato, Guijá. Teve depois, por portaria de 19 de março de 1960, aquando da criação do concelho do Baixo Limpopo, o nome Vila de Alferes Chamusca. Desde 1964, passou a ter o nome oficial de Vila Trigo de Morais. Na mesma ocasião, o concelho de Guijá, vizinho, a norte do rio, passou a designar‐se Caniçado, e a sua vila, Alferes Chamusca. Depois da independência, o antigo centro do colonato tomou o nome Chokwe. Situado na margem sul do Limpopo, em articulação com a via‐férrea e o canal grande de irrigação, apresenta um plano geral de cariz geométrico, reticulado, com orientação noroeste‐sudeste, nascendo de uma rotunda a norte, de onde irradiam as diversas vias principais. Pelas suas características, talvez corresponda ao Plano de Urbanização do Guijá, de 1935. Recebeu novo plano em 1974, pela Hidrotécnica Portuguesa.

Arquitetura religiosa

Equipamentos e infraestruturas

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