Chimoio [Vila Pery, Mandigos]

Lat: -19.109622005502000, Long: 33.474774997624000

Chimoio [Vila Pery, Mandigos]

Manica, Moçambique

Enquadramento Histórico e Urbanismo

Num passado longínquo, a região de Quiteve, onde se encontra localizada a atual cidade de Chimoio, foi ponto de passagem nas comunicações entre o Oceano Índico e o interior, usando-se então o Rio Révué, nas terras do Medudo e do Mevumbe, ou no vale entre o Rio Révué e o Búzi. Nesse tempo, a confluência dos rios Révué e Búzi parece ter sido sensivelmente mais a leste, existindo ainda atualmente nas terras do régulo Boca, no Búzi, na configuração do seu solo, algumas indicações do caminho que tal curso deve ter levado. A construção do caminho‐de‐ferro para o interior, já sob a administração da Companhia de Moçambique, levou à criação da circunscrição de Chimoio (1893), tendo‐se então mandado proceder à elaboração da planta para uma povoação no término da via‐férrea. O local inicialmente escolhido não era o mais conveniente, tendo‐se optado por um sítio próximo, então denominado Vila Barreto. A povoação foi criada oficialmente pela ordem n.º 25, de 30 de outubro de 1895, da Companhia de Moçambique, que administrou o território até 1942. Nos finais de 1895 ficaria concluída a sua instalação, uma vez devidamente arruada e iluminada. Ali se abandonava o caminho‐de‐ferro para se continuar a viagem em mala‐posta africana ou em carretas bóeres, puxadas a bois. O avanço da linha em direção a Nova Macequece retirou importância à jovem povoação. O próprio traçado do caminho‐de‐ferro levou a que se mudasse a Vila Barreto para um outro local, Chiniala (ou Chimiala) ou Mandigos (ou Mandigo), em julho de 1898. No ano seguinte, estavam já construídas as habitações para a residência e o quartel de polícia e cipaios, além do correio - procurando‐se ainda melhorar a povoação, limpando‐se e iluminando‐se as ruas, arborizando‐se com eucaliptos e bananeiras, abrindo‐se valas de escoamento e construindo‐se um poço para abastecimento de água ao pessoal da Companhia ali empregado. A Companhia de Caminho de Ferro construiu também casas de madeira e zinco onde instalou a estação, habitações para os seus empregados e uma oficina.
Em 15 de julho de 1916, a pedido dos agricultores da região, a povoação de Mandigos passou a designar‐se por Vila Pery (ordem n.o 3.388), em homenagem a João Pery de Lind, governador da Companhia de Moçambique. Neste mesmo ano, foram tomadas importantes iniciativas, tendo‐se levantado um edifício de alvenaria (seiscentos metros quadrados), no local onde se encontrava o antigo curral, destinado às secretarias da circunscrição, depósito, garagem, calabouços e habitação da polícia europeia; abriram‐se dois poços para fornecimento de água à vila; fizeram‐se ou regularizaram‐se os arruamentos, com a devida arborização (jacarandás importados da então Rodésia do Sul, atual Zimbabwe) e iluminação. A iniciativa privada construiu cinco prédios de alvenaria.
Nos anos seguintes, a partir de 1920, iniciou‐se o processo de saneamento da povoação, com os aterros dos pântanos existentes e o levantamento de parte de duas ruas principais. Este projeto devia continuar nos anos seguintes, tendo‐se procedido ao aterro de talhões no centro da vila, ao levantamento das ruas adjacentes, numa extensão de trezentos metros, e à terraplenagem do grande vale que servia de escoadouro à água das chuvas. A instalação da Sociedade Algodoeira de Fomento Colonial (SOALPO), em 1945, obrigou à constituição da Hidro‐Eléctrica do Revué, SARL, visando aproveitar o rio do mesmo nome, primeiro no Mavúzi, e depois na Chicamba. Chimoio viria a ganhar uma outra importância, agora do ponto de vista industrial, depois de ter sido, desde o início do século XX, uma região agrícola, com os seus interesses centrados na cultura do milho. Esta importância viria a ser reconhecida pela criação do concelho de Chimoio, em 1954 (decreto n.º 39.858, 20.10.1954), pela aprovação do foral da povoação, em 1956 (portaria n.º 11.582, 04.08.1956), e pela elevação à categoria de cidade, em 1969 (portaria n.º 22.258, 17.09.1969).
Chimoio foi, pois, de certo modo refundada, em termos urbanos e administrativos, após o final da jurisdição da Companhia de Moçambique e a recuperação do território pelo governo português, em 1942. Criado o concelho, a povoação constituiu‐se como estrutura urbana planeada, segundo modelos característicos do urbanismo moderno internacional. De facto, o Plano Geral de Urbanização de Vila Pery exprime essa modernidade de desenho, embora com a adaptação colonial expressa na unidade residencial indígena situada a norte do núcleo urbano, que estava significativamente dele separada (segregada) por uma área verde. Nos inícios dos anos 1970, a cidade surge impressionantemente semelhante à proposta no plano de vinte anos antes - constituindo assim uma criação rara, totalmente de raiz, dentro do urbanismo eclético‐modernizante da cidade-jardim e da unidade de vizinhança do Movimento Moderno, inspirado na Carta de Atenas corbusiana. Uma vista aérea editada em postal confirma esta forma urbs. Cerca de 1958, o arquiteto Paulo de Melo Sampaio, da Beira, colaborou na atualização deste plano urbano. Mais recentes, conhecem-se o Plano de Urbanização por Bernardino Ramalhete, de 1966, e o Plano Director pela Hidrotécnica Portuguesa, em virtude de um contrato de saneamento com a empresa hidrotécnica, estando em estudo a possibilidade de uma fonte alternativa para abastecimento de água. Na elegantemente desenhada malha urbana de Vila Pery/Chimoio, destacam-se vários edifícios de desenho moderno, dos anos 1950-1960, como é patente nas vistas do principal eixo viário da povoação, a Avenida da República, com a sequência do antigo Banco Nacional Ultramarino e do Sport Clube. Alguns destes edifícios foram desenhados pelo arquiteto Paulo de Melo Sampaio, que trabalhou sediado na Beira, a cidade que mais influenciou Chimoio do ponto de vista arquitetónico.

Arquitetura religiosa

Equipamentos e infraestruturas

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