Angoche [António Enes]

Lat: -16.229541999943000, Long: 39.904951999572000

Angoche [António Enes]

Nampula, Moçambique

Enquadramento Histórico e Urbanismo

Antes da chegada de Vasco de Gama em 1498, e de acordo com a tradição local oral, o Arquipélago de Angoche, constituído por várias ilhas, era habitado por uma comunidade que fazia parte do mundo suaíli da costa leste africana. Os grupos dominantes da região, os anhapakhos, eram membros da família shirazi, que alegadamente chegou às ilhas de Angoche e à Ilha de Quíloa (na atual Tanzânia) cujos sultões eram também shirazis, originários do Porto de Shiraz, situado na costa persa do Mar Vermelho. Um dos fundadores da família reinante do Sultanato de Angoche era Hasani, que morreu no mar e foi sepultado na ilha que posteriormente recebeu o seu nome, Kisiwa Sultani Hasani (conhecida como Ilha de Mafamede pelos portugueses). De acordo com Duarte Barbosa, que escreveu em 1508, os hábitos, costumes e língua dos habitantes das ilhas de Angoche eram semelhantes aos dos da Ilha de Moçambique. A parte continental da área da Angoche atual era dominada pelos macuas mulai, sob a liderança de Maurruça-muno, que nos meados do século XIX foi derrotado pelas novas ondas de imigrantes do interior, os macuas ampamella, encabeçados por Guarnea-muno e Morla-muno. Ambas as regiões estavam envolvidas no comércio de ouro de Sofala e Mwene-Motapa (Monomotapa) do Zimbabwe até ao seu esgotamento no século XVIII - dedicando-se a partir daí, e até aos meados do século XIX, ao comércio de marfim, e por último, ao comércio de escravos, até 1910. Serviam de intermediários entre o mundo suaíli e árabe e o interior continental africano.
Até aos meados do século XIX, os portugueses não conseguiram controlar ou instalar-se nas ilhas ou na parte continental de Angoche. A situação mudou quando um dos membros da família real das ilhas de Angoche, Musa Mohammad Sahib Quanto (m. 1879), decidiu atacar os prazos de Macanja da Costa, pertencentes aos irmãos da Silva, por causa da disputa sobre o controlo das vias de escoamento de escravos do interior para costa. Os portugueses foram apoiar os da Silva e um pequeno destacamento militar de mais ou menos vinte elementos chegou a ocupar a ilha em 1861, juntamente com João Bonifácio da Silva, um dos irmãos da Silva. Os prazeiros, depois de se vingarem dos anhapakhos, não tinham interesse em instalar-se nas ilhas e voltaram à sua terra. Consequentemente, o Mussa Quanto recuperou a ilha, onde foi instaurado como sultão e os poucos portugueses presentes foram expulsos. A partir do início da "ocupação efetiva" de África que teve o arranque decisivo em 1895, as ilhas de Angoche sofreram repetidos assaltos dos portugueses. Então, o outro membro da família real de Angoche, Omar bin Nacogo Farallahi (conhecido como Farelay pelos portugueses), juntamente com o sultão Ibrahim e os seus aliados, os macuas da parte continental, encabeçou a resistência que durou até 1910, quando Massano de Amorim e outros oficiais portugueses conseguiram conquistar militarmente a região. Depois da tomada da ilha em 1861, os portugueses criaram a povoação moderna (decreto de 05.07.1865), cujo foral foi aprovado já em meados do século XX (portaria n.o 11.585 de 04.08.1956, quando a vila foi abastecida de água). A evolução do processo administrativo de Angoche conheceu então as seguintes etapas ao longo de Novecentos: sede de circunscrição em 30 de julho de 1921, e de concelho em 31 de outubro de 1934; elevação a vila em 19 de dezembro de 1934 e a cidade em 26 de setembro de 1970. Embora os portugueses continuassem a administrar a região a partir de uma das ilhas de Angoche (Quíloa), já havia uma pequena população portuguesa em Parapato, na parte continental, que mais tarde foi transformada em vila de António Enes (designação que perdurou até 1976), sendo renomeada cidade de Angoche depois da independência.
A partir do início dos anos de 1930, na época do Estado Novo, a região de Angoche continental tornou-se um dos centros de produção de caju e arroz, para além de pesca tradicional, já existente na costa. Os portugueses identificaram a zona de Puli, onde habitavam os africanos, como a melhor parte continental de Parapato. Consequentemente, os africanos foram reinstalados no Bairro de Inguri, criado nesta altura, e no Puli foi construída a vila europeia de alvenaria chamada António Enes.
A evolução urbanística pode ser acompanhada através da edição municipal Planta da Vila de António Enes (esc. 1/5.000), datada de 1958, na qual se desenha a retícula elementar que conforma o povoado, no litoral. Os planos ou estudos de urbanização do século XX são de 1924, 1932 e 1965 (sendo este último da autoria do arquiteto Bernardino Ramalhete e revisto pela Hidrotécnica Portuguesa em 1972).
Nos anos de 1968 e 1972, o governo colonial, preocupado com o alastramento de movimentos de libertação no norte de Moçambique, levou a cabo várias medidas com vista a conquistar os muçulmanos para o seu lado, embora muitas delas estivessem também relacionadas com as políticas de descentralização do governo português a partir de 1971, as quais permitiram canalizar novos fundos para as colónias. Daí resultou a melhoria da qualidade da vida da população africana, incluindo o saneamento básico e a construção de bairros de alvenaria para os africanos, entre os quais o Bairro de Inguri, na cidade de Angoche. Nesta mesma época, o governo português procedeu ao restauro de algumas mesquitas históricas importantes e construiu novas, como a Mesquita de Catamoio, numa das ilhas de Angoche, inaugurada pelo general Kaúlza de Arriaga em 1971. Monumentos e Estatuária Destaca-se o Monumento a António Enes, simples busto sobre pedestal, frente à Câmara (erigido antes de 1954). Foi executado como "homenagem pela população do concelho", como se podia ler na inscrição da sua base, a qual é constituída por um volume prismático, em pedra, com dois contrafortes, igualmente em pedra, de cada lado.

Arquitetura militar

Arquitetura religiosa

Equipamentos e infraestruturas

Habitação

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