Malanje [Malange]

Lat: -9.546252997800900, Long: 16.347824988927000

Malanje [Malange]

Malanje, Angola

Enquadramento Histórico e Urbanismo

Por volta de 1843, junto das povoações da Capopa, estabeleceram-se alguns comerciantes, com mercadorias destinadas a Luanda. De há muito que esse local era ponto de passagem para as comitivas de carregadores que se dirigiam ao Dondo, na margem direita do Kwanza. Como base de apoio à Feira de Cassanje e posteriormente às campanhas militares movidas contra os jagas nos anos 1850-1860, ocorreu a fundação do Presídio em 1857, seguida da construção do Forte em 1862. Nesse contexto, foi constituída uma companhia de infantaria para escoltar as caravanas entre Ambaca e Cassanje. Quando a permuta na Feira de Cassanje sofreu sérios reveses a partir de 1861, Malanje atraiu numerosos comerciantes ambaquistas, bangalas e portugueses, que traziam do Lubuco borracha e marfim com destino às casas de negócio do Dondo. A vila foi sede de município em 1870 e capital do distrito da Lunda desde 1895 até 1921, tendo nesse período congregado as expedições coloniais que efetuaram a ocupação militar das terras além-Cuango. Constituiu ainda nas últimas décadas do século XIX paragem habitual de exploradores alemães e portugueses, como Capelo e Ivens, H. Carvalho, Wissmann, Pogge e Buchner. Os seus habitantes africanos e alguns europeus ocuparam-se do comércio e da agricultura, sendo os transportes feitos inicialmente por carregadores escravos e mais tarde por serviçais. Iniciado em 1886, o caminho-de-ferro de Ambaca só em 1909 atingiu Malanje, estabelecendo ligação mais fácil com Luanda e com as áreas produtivas intermédias, estimulando desse modo o seu crescimento populacional e económico. A povoação atraiu vagas de colonos a partir dos anos 1920 até constituir um forte núcleo de população branca nos anos 1960-1970. Em 1921 foi criado o distrito de Malanje. Em consequência da expansão económica do distrito e da instalação de várias empresas comerciais na cidade, a sua população atingiu em 1950 um total de 9.473 habitantes, que tinha já quadruplicado em 1960 para 38.811 habitantes, dos quais 9.000 eram brancos. Foi também o boom económico do pós-guerra que trouxe a Malanje, elevada a cidade em 1932, um aumento significativo da exploração algodoeira e a instalação da indústria alimentar na periferia urbana - oleaginosas, crueira e farinha de mandioca, massas, café, açúcar, descasque de arroz - bem como fábricas de cerâmica, cal, calçado, curtumes, tabaco, descaroçamento de algodão e serrações. Depois da Segunda Guerra Mundial, a acumulação de lucros substanciais por certas empresas, das quais as maiores eram a Cotonang e a Diamang, aumentou a receita fiscal do distrito e, a par de importantes investimentos públicos, viabilizou a expansão e restruturação urbanas. Com efeito, através do comércio clandestino de diamantes, avultados rendimentos foram investidos no setor da construção nos anos 1950-1960, particularmente em edifícios de betão de vários pisos erguidos nas principais artérias da cidade. Em poucos anos, surgiram hotéis, agências bancárias, colégios, sedes de empresas, clubes e cinema. A implantação cada vez mais intensa das estruturas religiosas metodista e católica também contribuiu para mudar a imagem de Malanje. A Missão Católica, fundada em 1890, tornar-se-ia desde então um pólo dinamizador da cidade, ao promover numerosas construções destinadas à sua obra social, à educação dos jovens africanos e europeus, e às comunidades missionárias instaladas na cidade. O mesmo se diga das igrejas paroquiais, a Igreja da Missão e o Seminário (1927), os edifícios mais recentes do Centro Social, do Colégio de São José de Cluny, da Igreja de Fátima (década de 1960) e da Escola de Habilitação de Professores (1968). Em 1957 seria criada a diocese de Malanje, e instalado o Palácio Episcopal. Uma missão metodista, fundada em 1885, ergueu mais tarde a igreja, que congrega numerosos crentes, juntamente com a Missão do Quéssua.
A primeira planta de Malanje, datada de 1857, revela um espaço rural muito heterogéneo, atravessado pelo rio do mesmo nome e um vasto pântano, a Quizanga. Algumas povoações rodeadas de campos de cultivo e ligadas entre si por caminhos acentuavam o carácter rural da região, onde emergia uma propriedade agrícola de um comerciante europeu. A construção da fortaleza sobre a planura situada a leste da povoação inicial seguiu o projeto assinado por Francisco Pereira Dutra, encarregado do serviço de Obras Públicas (1861). Constava de "uma linha de defesa abaluartada de um quadrado de 223 metros de lado, os edifícios para os alojamentos do chefe do concelho e do comandante, oficiais e soldados e outros para o serviço público e para o dos particulares". Foi demolida em 1894, e da linha abaluartada que rodeava a povoação restavam ainda algumas ruínas em 1898. Nesta zona mais elevada e portanto mais salubre, começava então a delinear‐se o núcleo da "cidade branca", ao longo da Rua Principal, formando um ângulo reto, e centrado na fortaleza, no tribunal e na Quitanda, inscritos no largo da Igreja Velha, construída entre 1860 e 1872, que já se encontrava em ruínas no início do século XX. Nas imediações erguiam‐se também o açougue e o Quartel da Companhia Móvel. A Missão Católica, a cargo da Congregação do Espírito Santo, deu origem a um bairro para as famílias cristãs, onde habitavam artífices e aprendizes formados na Missão, e também catequistas, professores e músicos. A sua localização encontra‐se assinalada na planta levantada em 1904 por Veloso de Castro, sendo bem visível não só a linha‐férrea e a estação, como um traçado urbano mais complexo, com várias vias de comunicação interna e externa. Na época predominava o casario térreo contínuo ao longo da estrada principal vinda do Lucala em direção ao Quissol, enquanto largos e ruas paralelas estruturavam a rede urbana em torno do núcleo central: o velho Largo da Quitanda e a mais recente Praça de Veríssimo Sarmento. No centro e na periferia sucediam‐se as casas de adobe cobertas a capim e cubatas de pau‐a‐pique, habitadas pela população africana em áreas vizinhas dos bairros europeus. Em 1924 foi levantada nova planta da vila, na qual estava previsto o alargamento da Avenida Principal ao longo de 1.200 metros, passando em frente da missão e da nova igreja paroquial. Apesar de, nos anos de 1930, a "cidade branca" se ter modernizado com novos arruamentos, habitações e alguns edifícios públicos, a estrutura urbana permaneceu no entanto igual a si própria. Malanje foi então referida por Henrique Galvão: "com frescuras planálticas no ar e nas coisas e o mesmo desenho português dos povoados de Angola, é a primeira grande conquista da colonização branca no interior norte de Angola". No traça do antigo da Praça Principal, junto ao Palácio do Governo, foram inscritos os edifícios do Banco de Angola e da Associação Comercial e Industrial do Planalto, apagando vestígios de modestas construções anteriores. Em 1949, havia duzentos e sessenta e nove prédios de construção definitiva, quatrocentos e um de adobe e trezentas e vinte casas de pau‐a‐pique. No pós‐guerra foi acelerada a construção de equipamentos essenciais, como a central e a rede elétrica, a rede de água e de esgotos (entre 1932 e 1951), a conclusão do Hospital (1949) e dos Correios e Telégrafos (1928‐1948), o Liceu Regional (1950), o Aeroporto, a nova ponte sobre o Rio Capopa, etc. O Plano de Urbanização, aprovado em 1951, constituiu uma proposta inovadora seguindo o modelo de "cidade‐jardim", de malha espraiada para sul e nascente. No traçado antigo das ruas e praças principais foram inscritos edifícios públicos e privados, como o Banco de Angola, o Governo de Distrito e a Associação Comercial e Industrial do Planalto, apagando vestígios de simples estruturas anteriores. Finalmente, foram dotados de estruturas mínimas os bairros periféricos - Maxinde, Quizanga, Carreira de Tiro, Katepa, Kanambua, Kangambu, Ritondo, Vila Matilde - que albergavam uma população africana crescente, composta de funcionários, operários e trabalhadores dos distintos setores económicos. Foram ainda construídos um novo bairro na Maxinde, e o Bairro da Cotonang, destinado aos funcionários europeus da empresa.

Equipamentos e infraestruturas

Arquitetura religiosa

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