Catumbela

Lat: -12.433097000000000, Long: 13.544044000000000

Catumbela

Benguela, Angola

Enquadramento Histórico e Urbanismo

Segundo a mais antiga referência conhecida, a povoação africana onde residia o soba Quitumbela e seu povo ndombe situava‐se na margem esquerda do Rio Catumbela, enquanto na margem direita habitava gente de Quissanje, Cahula e Hanha, ocupada na agricultura, pecuária e permuta do sal. Em 1618, Cerveira Pereira efetuou vários assaltos contra esta população mas não conseguiu ocupar a região, tendo o soba conservado o seu poder até ao século XIX. Durante o século XVIII, Catumbela tornou‐se a porta do sertão, como entreposto das caravanas dos negreiros e antecâmara do Porto de Benguela, onde se concentravam milhares de indivíduos, originários de longínquas regiões do interior do continente. Em 1836 foi decretada a fundação de Nova Asseiceira na margem esquerda do Rio Catumbela, sendo então construída a residência do chefe do concelho no Morro Vingussuque. Aí se fixaram, na década de 1840, alguns comerciantes africanos e europeus, vindos de Benguela com a intenção de ampliar a permuta de mercadorias europeias por géneros vindos do interior. A investida do governador Gonçalves Cardoso em 1846 reduziu a autoridade dos sobas, ao proceder à ocupação militar das duas margens do rio com a construção do Forte de São Pedro (1846‐1847). Em 1856 a povoação da margem direita foi ampliada com a construção de seis moradias dos "filhos da terra pretos e mulatos" (Bastos, 1912), cercadas de muros e com telhados de capim, situadas junto ao morro onde desembocava o caminho do Namano ou Camacuto, percorrido pelas caravanas dos ovimbundos. Nas décadas seguintes, a vila foi o término regular dessas "quibucas" provenientes do Bié e da Lunda, fazendo afluir ao litoral escravos, cera, gomas, marfim e borracha. Ao longo do século, o comércio continuou a prosperar graças ao resgate de escravos vindos do leste, sendo uns empregues nas fazendas da região e outros exportados para São Tomé. Desse modo, os comerciantes sertanejos asseguraram o crescimento e a prosperidade da Catumbela até 1900, fazendo surgir alguns edifícios de dois pisos, como os sobrados de Benigno Ferreira, do Garanganja e de outros comerciantes, apoiados pela indústria de cantaria e os fornos de cal de José Lourenço Ferreira (1889). Dotada de autonomia concelhia entre 1872 e 1882, Catumbela foi nesse último ano reintegrada administrativamente na Câmara de Benguela até 1903. Em 1887 a sua população atingia quase a de Benguela, com 2.045 habitantes, dos quais 1.931 negros, sessenta e quatro brancos e cinquenta pardos (mulatos). Constituída por quinhentos e doze fogos, a vila podia alojar três a quatro mil carregadores quando chegavam as comitivas. A sua importância crescente justificou a criação de uma câmara autónoma, realizando‐se eleições para a sua presidência em 1904; teve porém vida curta, pois foi extinta em 1913. No século XX, após o declínio da borracha e a proibição da venda de aguardente, foi instalada na zona norte da vila a sede de uma companhia açucareira, que condicionou a partir de então a economia e a sociedade da Catumbela, não só pelo número de trabalhadores, como pelo volume de negócios em torno do açúcar. Nos anos 1920 era já uma realidade, no perímetro norte da vila, o pólo de desenvolvimento representado pelas instalações industriais e pelo edifício sede da Sociedade Agrícola da Cassequel. Desde os anos 70‐80 do século XIX, o traçado linear da vila tinha início no Largo da Esperança, onde desembocava a Rua do Namano, e desenvolvia‐se em três ruas longitudinais implantadas na base dos morros vizinhos, na margem direita do Catumbela, e em largos como o da Quitanda e o do Desengano. No outro extremo, tinha início a estrada construída em 1883, a qual atravessava o rio em direção a Benguela. Essa estrutura viária encontra‐se representada na planta de Alves Roçadas, de 1900, na qual se percebem, ao longo das vias principais, as lojas e armazéns das grandes casas comerciais, que captavam os chefes das quibucas com presentes. Com os rendimentos obtidos através do comércio, foram implantadas as estruturas de uma urbe moderna como a escola, a estação do caminho‐de‐ferro, a energia elétrica e as duas pontes sobre o Rio Catumbela (1886 e 1905), o cemitério e a farmácia (1889), a câmara municipal (1890), o matadouro e a abegoaria (1897), e outros melhoramentos de carácter sanitário e urbanístico. Desde 1891, já uma linha‐férrea de via reduzida Decauville ligava Catumbela a Benguela; mas em 1904 seria inaugurada a nova estação do CFB, depois de concluído, em 1929, o primeiro troço dessa importante via, que passou a ligar o Lobito com a fronteira do então Congo Belga. A estrada principal que ligava Catumbela às cidades vizinhas de Benguela e Lobito beneficiava da existência da ponte sobre o Rio Catumbela, e corria paralela à linha do caminho‐de‐ferro. A planta de 1939 revela a deslocação das sanzalas africanas existentes junto ao rio para os bairros indígenas, distanciados a norte do centro comercial e residencial.

Arquitetura militar

Equipamentos e infraestruturas

Habitação

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