Lat: 14.894500000000000, Long: -24.499525000000000

São Filipe

Ilha do Fogo, Cabo Verde

Enquadramento Histórico e Urbanismo

A pequena cidade de São Filipe constitui a principal povoação da Ilha do Fogo, implantando‐se sensivelmente a meio da sua costa ocidental. Situada a sul do arquipélago, a ilha apresenta uma forma grosseiramente circular, com um corpo cónico, que culmina numa larga cratera vulcânica, a Chã das Caldeiras, com 1.800 metros de altitude, contendo o Pico do Fogo, que atinge por sua vez os 2.829 metros de altitude, bem como uma pequena povoação, a Chã. Ocorreram aqui erupções pontuais, recentes, nomeadamente em 1951 e em 1995. Conhece‐se cartografia histórica do Fogo, nomeadamente a carta de 1854, da Comissão de Cartografia do Reino, de rara beleza gráfica (Instituto de Investigação Científica Tropical, Lisboa). Colonizada e desenvolvida à sombra de Santiago, já em meados do século XVI se explorava na ilha o algodão, tendo também produzido café e vinho. Atualmente a ilha divide‐se em três concelhos, sendo o principal o de São Filipe, que abrange todo o seu lado ocidental, com povoados como São Lourenço, interior, com uma grande igreja abrindo sobre a vista da Ilha Brava, a ocidente, seguido do concelho de Mosteiros, na parte nordeste da ilha, com pequenos povoados e aldeias, algumas em plataformas baixas junto ao mar (as "fajãs") que evocam a toponímia açoriana (talvez sinal do povoamento local por ilhéus provindos dessas ilhas). Tal é o caso da Igreja ou Mosteiros, uma pequena povoação na costa nordeste, com desenvolvimento linear, implantando‐se segundo uma plataforma baixa costeira de efeito paisagístico, que apresenta forma alongada no sentido sudeste/noroeste, a direção do eixo viário estruturante, e contém uma singela igreja de duas torres olhando o mar, e também da Fajãzinha (a norte‐poente). De fundação mais recente, o concelho de Santa Catarina está sediado na aldeia de Cova Figueira, no lado sudeste da ilha, a que Orlando Ribeiro se referia como sendo uma "rara aldeia concentrada"; de facto, as suas habitações são muito juntas, em relação ao padrão habitual do povoamento do Fogo.
A cidade de São Filipe, situada na Ilha do Fogo, constitui a sede do respectivo concelho. Foi elevada à categoria de cidade a 12.06.1922 e é atualmente uma das três do país, juntamente com a Praia e o Mindelo. São Filipe foi também o primeiro nome dado à Ilha do Fogo, descoberta a 01.05.1460, dia de São Tiago e São Filipe, tendo mantido o nome até à erupção de 1675. Constitui o aglomerado populacional mais antigo de Cabo Verde depois da Ribeira Grande, atual Cidade Velha, na Ilha de Santiago. São Filipe terá sido provavelmente fundada no início do povoamento da ilha, que ocorreu algumas décadas após o descobrimento e se intensificou após 1503. Tem‐se como fundador da povoação um Fernão Gomes, a quem D. Manuel deu a capitania em 1510. É esta a data atribuída à fundação de São Filipe, se bem que haja notícia da Igreja de São Filipe já em 1500. Entre os povoadores da ilha contam‐se minhotos, algarvios, madeirenses, habitantes da vizinha Ilha de Santiago e muitos escravos. Em 1655, a cidade foi saqueada pelos holandeses durante quatro dias, sendo destruída a Igreja Matriz. Esta, bem como as igrejas de São Pedro, São Sebastião, São João e São Lourenço, viria a ser reconstruída nos anos seguintes por Fonseca Ornelas, mais tarde capitão‐mor de Cacheu, o qual também teve ação importante na defesa da ilha e da cidade, através da construção de várias fortificações, muros e baluartes. Na organização da cidade distinguiu‐se o capitão e sargento‐mor Cristóvão de Gouveia Miranda, reconduzido nestas funções em 1676, que, entre outras obras, construiu os fortes de São Sebastião e São Filipe, a Cadeia, a Casa de Câmara e a Casa do Alcaide. A cidade localiza‐se na Baía de São Filipe, na costa ocidental da ilha, situando‐se a uma cota elevada, sobranceira ao mar. Está disposta em anfiteatro, descendo gradualmente pela encosta de um monte até se quedar numa ravina. A malha urbana acomoda‐se a esta situação topográfica, com as ruas principais dispostas de nível, longitudinalmente, as frentes de ruas escalonadas adaptando‐se aos declives e pequenas praças ajudando na articulação dos vários planos. O núcleo urbano desenvolve‐se entre duas ribeiras - a Ribeira da Trindade e a Ribeira de São João - dividindo‐se em Bila Riba e Bila Baxo. A Bila Baxo é a mais antiga, com a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, o Presídio e a Câmara Municipal. A sua estrutura urbana tem duas direções estruturantes principais: a linha de costa, paralela à qual se desenvolvem algumas ruas longitudinais, e a descida para o mar, para a Ponta do Boqueirão, que define uma outra direção de crescimento, para o interior. A Bila Baxo organiza‐se em torno de um conjunto de pequenos largos, rodeados de sobrados, que são predominantes nesta parte baixa da cidade. A Bila Riba, mais recente, está situada a uma cota mais elevada, separada da primeira por um jardim, no Alto de São Pedro. A Bila Riba tem um traçado mais regular, definido por quarteirões retangulares, ordenados segundo uma estrutura ortogonal.
Desta povoação, de malha irregular, há uma detalhada planta, minuciosamente legendada: Cabo Verde Villa de S. Filippe Povoação principal da ilha do Fogo, à escala 1/ 2.500, executada pela Secretaria e Obras Públicas na Ilha do Fogo, em novembro de 1888 (Sociedade de Geografia de Lisboa). Contava então com cerca de setecentos e trinta e sete habitantes, apresentando‐se como uma pequena povoação costeira, de malha sensivelmente irradiante, convergindo os seus arruamentos principais, no sentido norte‐sul, descendo a encosta, para um ponto comum junto ao então Largo da Alfândega. A planta identifica ainda o Largo da Misericórdia, costeiro, e, segundo uma linha estruturante, característica de "rua direita", o Largo da Igreja, com o Largo Municipal mais acima, e, a seguir, o Mercado.

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