Macapá

Lat: 0.034458333333333, Long: -51.066563888889000

Macapá

Amapá, Brasil

Enquadramento Histórico e Urbanismo

As terras costeiras situadas acima da margem norte do Rio Amazonas eram identificadas como "as terras do Cabo do Norte". Em 1636, o território do Cabo do Norte foi passado em donatária a Bento Maciel Parente, mas a posse da região foi objeto de disputa constante. Primeiro com holandeses, depois ingleses e a seguir com os franceses, numa querela diplomática que durou todo o século XVIII e só ficou finalmente resolvida no século XIX, depois de D. João VI ter invadido Caiena. Desde o final do século XVII que se mantinha ali um pequeno forte, no entanto, a ocupação efetiva afirmar‐se‐ia com a criação da vila de São José de Macapá. Instalada na foz do Amazonas, em plena linha do Equador, e completada por uma grande e nova fortaleza, a vila deveria garantir a defesa da entrada do rio. A sua criação foi uma das prioridades do governo de Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Em janeiro de 1752 chegaram os primeiros casais açorianos enviados para formar a povoação, e outras levas depois se lhe seguiram. O processo de instalação da vila teve duas fases. Entre 1752 e 1757, foi supervisionado pelo ouvidor João da Cruz Dinis Pinheiro. Os primeiros desenhos que se conhecem de Macapá mostram como o ouvidor distribuiu os terrenos entre os colonos, dispondo‐os em duas grandes praças. Embora os desenhos do ouvidor não tenham o rigor matemático de outros profissionais, é interessante ver que em várias ocasiões na história do urbanismo brasileiro foram estes oficiais de justiça que foram chamados a cumprir na prática a ação urbanizadora, desempenhando‐a com uma cultura espacial não despicienda. A partir de 1757, o comando dos trabalhos de instalação da vila passou a estar sob a supervisão direta de um engenheiro, o sargento‐mor Tomás Rodrigues da Costa, que tinha feito o seu tirocínio no estaleiro da reconstrução de Lisboa. Em linhas gerais, o desenho já feito no terreno foi a base sobre a qual o engenheiro trabalhou. Manteve as duas grandes praças, modificando apenas as suas relações de proporção, e continuou o processo desenhando, no papel e no terreno, as novas ruas, a igreja e a casa da câmara. Fez projetos específicos para estes edifícios, e em alguns casos desenhou‐os mais de uma vez, posto que mereceram críticas da administração ou precisaram adequar‐se a novos orçamentos. Os desenhos de Macapá são especialmente interessantes porque dão a ver a metodologia de acompanhamento da obra contínua do desenho urbano, desde a abertura das ruas no terreno à definição e construção da arquitetura. Salvaguardadas as diferenças de escala (e da importância relativa de cada núcleo), era metodologicamente o que se estava a fazer, ao mesmo tempo, na reconstrução de Lisboa, de onde tinha vindo Tomás Rodrigues da Costa. O código de posturas municipais determinava que a regularidade das fachadas deveria ser mantida pelos moradores, embora tal possa não ter sido integralmente cumprido. A elevação oficial da vila teve lugar em 1758, com a presença do governador. O projeto urbano fez‐se acompanhar de um projeto económico que se fundamentava no incentivo à agricultura e à pecuária (feito inclusive com doação de gados bovinos e equinos para os colonos), assim como no fomento à indústria, em especial a fabricação de algodão, e uma tentativa de criação de bichos‐da‐seda. Era igualmente intenção do projeto político e ideológico que a vila fosse um pólo de convivência civilizada entre os colonos e os nativos. O discurso da civilidade pretendida era dado pela forma regular e beleza da vila. O discurso da legitimação do poder que a instituíra era feito no nome - São José - dado à vila, em clara alusão ao rei, assim como no nome das duas grandes praças, São João e São Sebastião, que homenageavam o rei anterior e o famoso ministro de D. José, Sebastião José de Carvalho e Melo, o marquês de Pombal, irmão do governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Não se preservou a arquitetura civil do século XVIII. As duas praças continuam a marcar o plano de Macapá, mas uma delas foi substancialmente alterada nas suas dimensões, com a construção de um edifício contemporâneo que ocupa sensivelmente metade da praça. A Igreja Matriz de São José está no lugar onde foi projetada, na antiga Praça de São Sebastião, mas a sua configuração atual não corresponde a qualquer dos projetos conhecidos para a sua execução. As modificações foram introduzidas já no século XX. Confirma‐se por uma fotografia que até 1910, pelo menos, a igreja mantinha no essencial a fachada, muito simples, de porta central encimada por duas janelas e frontão em empena triangular, tal como constava no desenho de 1759, do engenheiro Tomás Rodrigues da Costa. A única modificação visível era o acrescento de uma torre lateral, que parece corresponder à que ainda lá está.

Arquitetura militar

Arquitetura religiosa

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